O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela acusou autoridades brasileiras de fazerem “declarações intervencionistas e rudes”.
A Venezuela retirou o seu embaixador do Brasil numa discussão sobre a recente tentativa fracassada de Caracas de aderir à aliança BRICS de grandes nações em desenvolvimento.
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela anunciou o golpe diplomático na quarta-feira, criticando as autoridades brasileiras por “bloquearem” sua adesão ao BRICS e por fazerem “declarações intervencionistas e rudes”.
O ministério também convocou o enviado comercial do Brasil para negociações, informou a Reuters.
A medida aumenta as tensões entre os estados vizinhos da América do Sul, que pioraram desde que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, se declarou reeleito em julho, apesar de grandes irregularidades na contagem dos votos.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, um aliado socialista próximo do antecessor de Maduro, Hugo Chávez, não reconheceu Maduro como o legítimo vencedor da votação de 28 de julho, apelando às autoridades eleitorais venezuelanas para publicarem primeiro as contagens oficiais.
A decisão do Brasil de minar as antigas ambições da Venezuela no âmbito do BRICS Na recente cimeira do grupo em Kazan, a Rússia colocou lenha na fogueira.
“O povo venezuelano sente indignação e vergonha por esta agressão inexplicável e imoral”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela após a votação.
O BRICS é atualmente composto pelos países membros originais Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, juntamente com os recém-chegados Irão, Egipto, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, que aderiram ao bloco em Janeiro de 2024.
‘Mensageiro do imperialismo’
Na sua última declaração, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Venezuela atacou o principal conselheiro de política externa do Brasil, Celso Amorim, que disse que o Brasil vetou a candidatura do BRICS porque Caracas “quebrou a confiança” dos seus parceiros.
Amorim, disse o ministério da Venezuela, estava “agindo mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano” e estava “dedicado impertinentemente a emitir julgamentos de valor sobre processos que correspondem apenas aos venezuelanos e às suas instituições democráticas”.
Autoridades eleitorais alinhadas com Maduro declararam-no vencedor das eleições, mas não divulgaram resultados detalhados para apoiar a afirmação.
A oposição, entretanto, afirmou que o seu candidato Edmundo Gonzalez venceu por uma vitória esmagadora, publicando resultados detalhados das assembleias de voto.
Vários países latino-americanos e os Estados Unidos reconheceram Gonzalez, acusado de incitamento à sedição, como o vencedor.
Gonzalez fugiu do país e procurou asilo político em Espanha.
As forças de segurança da Venezuela travaram uma repressão feroz aos manifestantes que saíram às ruas após as eleições, matando pelo menos 23 pessoas, de acordo com um relatório da Human Rights Watch.
Um líder da oposição venezuelana foi encontrado morto na semana passada depois de ser levado sob custódia do Estado, segundo seu partido político.