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Conheça o Cowboy de Ferro Paralímpico que “quer vencer na vida”

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Chega um momento em que Fernando Rufino narra a impressionante lista de acidentes e ferimentos que moldaram sua vida, em que você começa a se perguntar se foi transportado para algum tipo de dimensão alternativa.

Um dos atletas paralímpicos mais famosos do Brasil, Rufino, por seus esforços na canoagem, é conhecido pelo apelido de “Cowboy de Ferro”, que faz alusão tanto ao seu passado como peão de rodeio quanto às placas de metal que reforçam sua medula espinhal, que ele machucou quando, aos 21 anos, caiu de um ônibus em movimento, com as rodas esmagando seu corpo.

Só isso já daria uma história incrível. Mas você não ouviu nem a metade dela.

Houve uma vez em que ele foi pisoteado por um touro de 800 kg e arrastado pelo chão por um cavalo a galope. Também houve acidentes de carro, moto e a cavalo.

“Quebrei esse polegar”, conta Rufino O Atlético. “Eu cortei a ponta deste dedo, uma pequena lâmina de serra caiu no meu rosto e foi bem abaixo do meu olho. Meu irmão e eu costumávamos tentar recriar cenas de luta de filmes. Em uma ocasião, ele me bateu com uma tábua de madeira e cortou minha cabeça.

“Quando eu era adolescente, um touro quebrou meu maxilar. Então o ônibus me atropelou. Eu bati minha moto em uma árvore a 100 km/h. Eu estava fazendo musculação na academia e uma barra de metal caiu em mim, quebrando meu nariz. Eu quebrei duas costelas devido ao overtraining, treinei por duas semanas com uma perna quebrada, pensando que era apenas um problema muscular…

“Então fui atingido por um raio”.

Raio?

“Sim! Na minha porta da frente. Senti a energia dela passando por mim. Ela me jogou para o alto. Caí de costas no pescoço, cortei meu cotovelo. Eu me contorci no chão por cerca de 15 minutos com meus músculos todos contraídos. Eu pude sentir o cheiro de queimado por três dias depois.

“Eu adoro quando acidentes acontecem comigo. Isso só me dá mais histórias para contar. Eu sou um cara do interior, um guerreiro que quer vencer na vida, um cowboy que ganhou ouro nas Paralimpíadas.”

E hoje, o atual atleta paralímpico Va'a 200m VL2 e tricampeão mundial entrará na água para tentar defender seu título.


Rufino foi criado em uma fazenda tradicional no Mato Grosso do Sul, centro-oeste do Brasil. Ele e seus pais ainda vivem lá com os cavalos e touros, o dinheiro que Rufino ganha com canoagem investido na propriedade que eles administram de acordo com o modo de vida de seus avós.

Rufino se tornou um peão de rodeio porque sonhava em viajar o mundo. Mas depois de sua lesão na medula espinhal, ele sabia que sua carreira estava acabada.

Com a ajuda do pai, ele reaprendeu a andar na fazenda e passou quase todos os anos de reabilitação em casa, andando a cavalo e nadando no reservatório. “Os animais são parte da minha história e de quem eu sou”, ele diz. “Eles me ajudaram a andar novamente.”

Rufino ainda queria viajar pelo mundo, no entanto, e o esporte era uma maneira de fazer isso. Um amigo encontrou um centro que treinava atletas com deficiência. Ele tentou alguns esportes e então, em 7 de agosto de 2012, às 8h — ele se lembra da data com clareza precisa — ele tentou paracanoagem.

“Eu esqueço da minha deficiência na água”, ele diz. “Eu me sinto como todo mundo. Se você me visse remando ao lado de alguém sem nenhuma deficiência, eles não saberiam qual de nós era deficiente. É libertador.”

O atleta de 39 anos perdeu as Paralimpíadas do Rio de 2016 por causa da pressão alta e da hipertrofia no coração, mas sua técnica melhorou porque a carga de treinamento era menor. Quando ele fez sua estreia paralímpica em Tóquio 2020, adiada por 12 meses por causa da pandemia global, ele fez uma declaração com seus cabelos prateados tufados, tornando-se o primeiro brasileiro a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos.


Fernando Rufino teve sua grande chance em Tóquio (Yasuyoshi Chiba/AFP via Getty Images)

Aclamado pela família na fazenda em casa, Rufino enfrentará seu bom amigo e compatriota Igor Tofalini, também um ex-cowboy de rodeio, que foi seu padrinho de casamento em 2018. Eles vivem, comem e treinam juntos no centro nacional de canoagem em Ilha Comprida, Brasil. Rivais na água, mas bons amigos fora dela, eles compartilham tudo.

“Se ele vencer, faremos um churrasco para comemorar, e será a mesma coisa se eu vencer. Mas as medalhas de ouro e prata serão nossas.”

O careca e barbudo Rufino, que guarda seu chapéu de cowboy em seu quarto na vila paralímpica e irrita todo mundo com a “música country mais triste” no dia da corrida, está pronto mental e fisicamente para as eliminatórias de sexta-feira e as finais de domingo, caso se classifique.

“Sem querer soar presunçoso, já ganhei tudo o que há para ganhar no meu esporte. Acredito que posso sair daqui como um bicampeão paralímpico.”

Rufino diz que os Jogos de Los Angeles 2028, quando ele terá 43 anos, provavelmente serão suas últimas Paralimpíadas, mas tudo o que importa para ele é ser lembrado como o “verdadeiro Cowboy de Ferro”.

“Eu definitivamente vou morrer velho. Eu tentei morrer jovem, mas nunca consegui.”

(Foto superior: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images))



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