Os lagartos mergulhadores têm um truque aquático na manga: eles podem criar bolhas de ar na testa para respirar debaixo d'água, o que lhes permite permanecer submersos por longos períodos e escapar de predadores, dizem os pesquisadores.
Em 2018, cientistas capturou a primeira filmagem de um lagarto semi-aquático conhecido como anole de riacho (Anolis oxylophus) respirando debaixo d'água usando uma bolha de oxigênio armazenado ao redor do focinho — uma habilidade que nunca havia sido vista antes em lagartos. Desde então, pelo menos 18 outras espécies de anolis foram encontradas fazendo isso também, incluindo anolis aquáticos (Anolis aquático).
No entanto, até agora, os pesquisadores não tinham ideia se essa bolha permitia que esses lagartos permanecessem debaixo d'água por muito tempo ou se ela se formava apenas como um efeito colateral da pele que repele a água.
Em um estudo publicado em 18 de setembro na revista Cartas de Biologiapesquisadores testaram quase 30 anolis aquáticos e descobriram que aqueles que usavam bolhas de ar permaneceram submersos 32% mais tempo do que os anolis sem bolhas. Na natureza, esse tempo extra submerso provavelmente os ajuda a escapar de predadores.
“Existem muitas ameaças em seu ambiente, e faz sentido que eles desenvolvam uma maneira única de lidar com elas usando o recurso — água — que eles têm disponível”, disse o autor do estudo. Lindsey Suiçaprofessor assistente de pesquisa em ciências biológicas na Universidade Binghamton, em Nova York, disse à Live Science em um e-mail.
Semi-aquático anolis aquáticos passam a maior parte do tempo vivendo em pedras perto das margens dos rios em florestas na Costa Rica e no Panamá. São pequenos lagartos que podem crescem até 20 centímetros de comprimento. Quando ameaçados, eles foram observados pulando em águas próximas para escapar.
“Sabemos que eles podem ficar debaixo d'água por pelo menos 20 minutos, mas provavelmente mais”, disse Swierk.
Ao mergulhar, esses anolis exalam para criar uma bolha que envolve sua cabeça, presa pela pele repelente de água dos lagartos. “Quando os anolis aquáticos mergulham, sua pele hidrofóbica (“repelente de água”) mantém uma camada de ar sobre a superfície do corpo”, disse Swierk.
À medida que os anoles expiram e inspiram, a bolha se expande e colapsa. Os pesquisadores sugerem que isso redistribui o ar sobre e dentro do corpo de um anole, dando a ele oxigênio suficiente para mergulhos longos.
Para testar isso, cientistas coletaram 28 anolis aquáticos do Rio Java, na Costa Rica. A equipe aplicou uma substância em 13 cabeças dos anolis para impedir que sua pele fosse repelente de água, o que significa que a bolha não se fixaria, disse Swierk.
“Em seguida, comparamos a duração do mergulho e a capacidade de respirar novamente bolhas em anolis com e sem emoliente aplicado”, disse Swierk.
No grupo de controle — os anoles sem nenhuma substância aplicada — o mergulho mais longo registrado foi de 477 segundos (quase oito minutos), embora isso tenha sido excluído da análise por ser um valor atípico. O mergulho mais longo incluído na análise foi de 308 segundos (pouco mais de cinco minutos). No grupo com a substância aplicada, o mergulho mais longo foi de 254 segundos (mais de quatro minutos).
Em média, anolis sem a substância aplicada passaram 67,5 segundos a mais debaixo d'água do que aqueles com a substância. “Esses resultados mostram que quando anolis semi-aquáticos podem respirar novamente usando bolhas, eles podem mergulhar por mais tempo”, disse Swierk.
Swierk sugere que a diferença entre os tempos de mergulho pode ter sido muito diferente se esse experimento tivesse sido conduzido na natureza e não em tanques. “A pressão para permanecer escondido de um predador real, que não usamos em nosso estudo, poderia empurrar os tempos de mergulho do grupo de controle para muito mais tempo”, disse Swierk.
Anoles não são os únicos animais conhecidos por usar bolhas debaixo d’água. Por exemplo, besouros mergulhadores carregam ar preso atrás deles na ponta de suas coberturas de asas. Esta bolha atua como uma “guelra física”, trocando oxigênio com a água para repor o suprimento dentro da bolha.
A equipe agora quer descobrir se os anolis aquáticos usam suas bolhas respiratórias da mesma maneira.