O cofundador do Telegram, Pavel Durov, foi detido no aeroporto de Paris-Le Bourget no sábado, depois de chegar em um avião particular de Baku, Azerbaijão.
Ele é acusado de não ter moderado atividades criminosas na plataforma.
Aqui está o que sabemos sobre Durov, Telegram e o caso:
Quem é Durov e por que ele foi detido?
O russo Durov, 39, foi cofundador do que se tornou uma das redes sociais mais populares da Rússia, o VKontakte, em sua cidade natal, São Petersburgo, em 2007. Ele foi comparado ao cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg.
Em 2013, ele ganhou as manchetes globais ao oferecer publicamente um emprego ao denunciante e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional, Edward Snowden.
Em uma entrevista com o jornalista americano Tucker Carlson no início deste ano, Durov afirmou que estava sob pressão para dar às autoridades russas acesso a dados de contas de ativistas pró-democracia ucranianos em 2014 — e que ele se recusou a fazê-lo.
À medida que o governo russo reforçava seu controle sobre a internet e os aliados do presidente Vladimir Putin começavam a assumir o controle do VKontakte, Durov vendeu sua participação na plataforma em 2014 e fugiu do país.
Ele então mudou seu foco para o Telegram, um aplicativo que ele fundou com seu irmão Nikolai quando tinha 28 anos.
Durov está morando em Dubai e é cidadão dos Emirados Árabes Unidos e da França, de acordo com o Telegram. Não está claro se ele abriu mão de sua cidadania russa.
A revista de negócios Forbes estima sua riqueza em US$ 15,5 bilhões, na manhã de domingo.
Durov manteve uma postura de não intervenção na moderação, posicionando o aplicativo como privado e censura. No entanto, alguns especialistas alertaram que essa abordagem levou o Telegram a se tornar um hotspot para atividades ilícitas e extremismo.
De acordo com uma reportagem da agência de notícias AFP, ele foi detido “por delitos supostamente cometidos no Telegram, que vão desde fraude a tráfico de drogas, cyberbullying e crime organizado, incluindo promoção de terrorismo e fraude”.
Embora a União Europeia e os Estados Unidos tenham multado outras plataformas de mídia social por violações de suas regras e regulamentos, e seus legisladores tenham convocado líderes de empresas digitais para audiências públicas, não há informações de que eles tenham prendido grandes líderes de tecnologia.
Em 2016, um executivo sênior do Facebook foi preso no Brasil após a empresa não dar informações do WhatsApp relacionadas a uma investigação de tráfico de drogas. A empresa controladora do Facebook, que foi renomeada para Meta em 2021, é dona do WhatsApp.
O que é o Telegram?
Lançado em agosto de 2013, o Telegram é um aplicativo de mensagens baseado em nuvem. A plataforma permite que os usuários enviem mensagens, fotos e arquivos grandes, bem como criem grupos para “até 200.000 pessoas ou canais para transmissão para públicos ilimitados”.
Esses recursos, somados à moderação mínima do aplicativo, fizeram dele um local ideal para indivíduos e grupos banidos de outras plataformas, como Twitter e Facebook.
Desde sua criação, a plataforma cresceu em popularidade; agora, tem quase um bilhão de usuários ativos e surgiu como uma importante ferramenta de comunicação em zonas de conflito, incluindo a guerra entre Rússia e Ucrânia.
A equipe de desenvolvimento do Telegram está atualmente sediada em Dubai, Emirados Árabes Unidos.
⚖️ O Telegram obedece às leis da UE, incluindo a Lei de Serviços Digitais — sua moderação está dentro dos padrões da indústria e está em constante melhoria.
✈️ O CEO do Telegram, Pavel Durov, não tem nada a esconder e viaja com frequência pela Europa.
???????? É absurdo afirmar que uma plataforma ou seu proprietário…
— Telegram Messenger (@telegram) 25 de agosto de 2024
De acordo com um relatório segundo a Statista, o Telegram é o terceiro aplicativo de mensagens mais baixado no mundo, depois do WhatsApp e do Snapchat.
Em 2023, Índia, Rússia e EUA foram os principais mercados do aplicativo com base em números de download. Em 2021, foi o aplicativo mais baixado em todo o mundo com um bilhão de downloads.
O Telegram diz que Durov “apoia o Telegram financeiramente e ideologicamente”. A plataforma especificamente se mantém longe de “censura politicamente motivada”, no entanto, especifica que bloqueia “bots e canais terroristas”.
A plataforma ganha dinheiro por meio de receitas de publicidade e de um programa de assinatura premium lançado há dois anos.
“Esperamos nos tornar lucrativos no ano que vem, se não neste ano”, disse Durov ao Financial Times em março.
“A principal razão pela qual começamos a monetizar é porque queríamos permanecer independentes”, disse ele. “De modo geral, vemos valor em [an IPO] como um meio de democratizar o acesso ao valor do Telegram.”
Como a Rússia respondeu à prisão de Durov?
A relação entre a Rússia e Durov tem sido repleta de tensão. Depois que Durov deixou o país, a Rússia começou a bloquear o Telegram em 2018, quando o aplicativo se recusou a fornecer aos serviços de segurança do estado acesso às mensagens criptografadas dos usuários. A proibição foi suspensa em 2020, embora o aplicativo — como outras plataformas online na Rússia — enfrente censura e escrutínio do governo.
No entanto, após a prisão do empresário, a Rússia respondeu rapidamente, e sua embaixada na França exigiu acesso consular a Durov e exigiu que ele tivesse acesso aos seus direitos.
Mikhail Ulyanov, representante permanente da Rússia nas Nações Unidas em Viena, acusou a França de agir como uma sociedade “totalitária” — ao mesmo tempo em que chamou Durov de “ingênuo” por acreditar nas alegações ocidentais de defesa da liberdade de expressão.
“Algumas pessoas ingênuas ainda não entendem que, se desempenham um papel mais ou menos visível no espaço de informação internacional, não é seguro para elas visitar países que caminham para sociedades muito mais totalitárias”, escreveu Ulyanov no X.
De acordo com Ben Aris, observador da Rússia e editor da agência bne IntelliNews, Durov estava voando do Azerbaijão, onde Putin esteve nos últimos dias.
“A conversa era que ele estava lá querendo pressionar Putin para evitar que o Telegram fosse bloqueado ou desativado dentro da Rússia”, disse Aris à Al Jazeera.
Separadamente, o ex-presidente russo Dmitry Medvedev escreveu no domingo em seu canal do Telegram: “Ele pensou que seus maiores problemas estavam na Rússia e foi embora… ele queria ser um brilhante 'cidadão do mundo', vivendo bem sem uma pátria.”
“Ele calculou mal. Para nossos inimigos comuns, ele ainda é russo – imprevisível e perigoso, de sangue diferente.”
E quanto a outras reações à prisão de Durov?
Elon Musk, o dono da X, postou #FreePavel na plataforma.
“Estamos em 2030 na Europa e você está sendo executado por curtir um meme”, acrescentou.
POV: Estamos em 2030 na Europa e você está sendo executado por curtir um meme
— Elon Musk (@elonmusk) 24 de agosto de 2024
“A prisão de Durov, além de ser incrivelmente injusta com base nas acusações atuais (está claro que Durov não está envolvido em terrorismo ou tráfico de armas), também é um golpe significativo à liberdade de expressão”, disse Georgy Alburov, um ativista político russo da Fundação Anticorrupção do falecido líder da oposição Alexey Navalny, no X.
“Liberdade para Pavel Durov”, acrescentou.
Edward Snowden chamou a prisão de “um ataque aos direitos humanos básicos de expressão e associação”.
A prisão de @Durov é um ataque aos direitos humanos básicos de expressão e associação. Estou surpreso e profundamente triste que Macron tenha descido ao nível de fazer reféns como um meio de obter acesso a comunicações privadas. Isso rebaixa não apenas a França, mas o mundo.
— Edward Snowden (@Snowden) 25 de agosto de 2024
O ex-apresentador da Fox News, Tucker Carlson, também criticou o governo francês.
Pavel Durov deixou a Rússia quando o governo tentou controlar sua empresa de mídia social, Telegram. Mas, no final, não foi Putin quem o prendeu por permitir que o público exercesse a liberdade de expressão. Foi um país ocidental, um aliado do governo Biden e um membro entusiasmado da OTAN,…
— Tucker Carlson (@TuckerCarlson) 24 de agosto de 2024
O ex-candidato presidencial dos EUA Robert F. Kennedy Jr., que desistiu da disputa na semana passada para apoiar Donald Trump nas eleições de novembro, também apoiou Durov em uma postagem no X.
A França acaba de prender Pavel Durov, fundador e CEO da plataforma criptografada e sem censura Telegram. A necessidade de proteger a liberdade de expressão nunca foi tão urgente.
— Robert F. Kennedy Jr. (@RobertKennedyJr) 25 de agosto de 2024